quinta-feira, 14 de junho de 2012

Krokodil - Nova e destruidora droga russa

A droga é uma alternativa barata à heroína. Porém, ela causa necrose no local onde é aplicada, expondo ossos e músculos.

Uma droga barata, que está sendo consumida por um número cada vez maior de pessoas e tem efeitos colaterais bizarros. Essa é a krokodil (que em russo significa crocodilo), uma alternativa ao uso da heroína que está fazendo vítimas por toda a Rússia.
O nome vem de uma das consequências mais comuns ao uso, a pele da pessoa passa a ter um tom esverdeado e cheia de escamas, como a de um crocodilo. Ela é a desomorfina, um opióide 8 a 10 vezes mais potente que a morfina. O problema maior nesta droga russa é a maneira como o produto é feito.
O krokodil é feito a partir da codeína, um analgésico opióide que pode ser comprado em qualquer farmácia russa sem receita médica, assim como acontece com analgésicos mais fracos no Brasil. A pessoa sintetiza a droga em uma cozinha usando produtos como gasolina, solvente, ácido hidroclorídrico, iodo e fósforo vermelho, que é obtido de caixas de fósforo comuns, além dos comprimidos de codeína.

Logicamente nenhum destes ingredientes é ideal e o produto final não é nem um pouco puro, mas o resultado para o usuário é satisfatório. A consequência de se colocar tantos produtos químicos na veia é a irritação da pele, que com pouco tempo passa a ter uma aparência escamosa. A área onde o krokodil é injetado começa a gangrenar, depois a pele começa a cair até expor os músculos e ossos.

Casos de viciados precisando de amputação ou da limpeza de grandes áreas apodrecidas em seus corpos são cada vez mais comuns em salas de emergência dos hospitais daquele país. A dificuldade em se combater o uso desta droga está na pouca ajuda que o governo dá a centros de reabilitação e na grande facilidade na produção, afinal basta uma cozinha e o conhecimento de como se “cozinhar” o produto. Largar o krokodil pode ser uma tarefa extremamente difícil. A desintoxicação é muito lenta e o usuário sente náuseas e dores por até um mês, sendo que conseguir uma nova dose é muito fácil. Sequelas físicas e mentais do uso contínuo do krokodil podem ficar para sempre.
O krokodil pode acabar matando o usuário recorrente em mais ou menos 2 anos e são raros os casos de pessoas que se livraram do vício. A migração deles de uma droga para outra é explicada pelo valor da dose. Cada uso de heroína pode custar na Rússia 150 Dólares (270 Reais), já o krokodil custa em média 8 Dólares (aproximadamente 14 Reais). Um problema na alternativa mais barata é a duração dos efeitos, que são muito menores.

Enquanto os efeitos da heroína podem durar 8 horas, o krokodil dura com sorte 90 minutos. Como produzir a droga leva mais ou menos uma hora, a pessoa passa a viver apenas para produzir e injetar.

No Brasil, a codeína é vendida apenas com receita médica, mas na Rússia o produto é o analgésico mais popular do país. Usada por praticamente a metade da população, ela é responsável por cerca de 25% do lucro de algumas farmácias. Por este motivo a indústria farmacêutica e os empresários do ramo lutam para que o governo não torne a droga restrita à venda com prescrição.

Outros países onde a codeína é vendida sem receita são o Canadá, Israel, Austrália, França e Japão. Neles existe um grande risco do krokodil se tornar uma epidemia como a que atinge atualmente a Rússia. Abaixo você verá dois vídeos mostrando os resultados nefastos do uso desta droga.

Eu poderia terminar este texto dizendo que ninguém deveria usar esta droga sequer uma vez, mas ninguém procura uma alternativa tão tóxica e mortal porque vai usar só uma vez. Usuários de krokodil já estão migrando de outras drogas pois não podem sustentar o próprio vício. O melhor conselho que qualquer pessoa pode lhe dar é para que você jamais experimente nenhuma droga ilegal.

 FONTE:
http://noticias.r7.com/blogs/luciano-szafir/2011/12/07/nova-droga-russa-krokodil/



Lágrimas de Krokodil - Part 1
Uma Terrível Droga Nova Seduz Uma Geração

Texto Andy Capper e Alison Severs; Fotos por Stuart Griffiths


Não se diz “mandado para a Sibéria” à toa. Descobrimos isso no primeiro dia de nossa viagem a Novokuznetsk, que fica no oeste dessa região russa de 8,3 milhões de quilômetros quadrados. No verão, o frio dá lugar a uma estação nublada e amena e o ar fica cheio de mosquitos do tamanho do seu mindinho.

Uma sensação de pobreza da era soviética permeia cada faceta da vida na cidade: blocos de casas acinzentadas, o latido de cães ferozes e o café no hotel às 6 da manhã com linguiça e ovos fritos salpicados com endro. Mas reclamar desses pequenos inconvenientes seria o equivalente a um visitante na Síria reclamar do barulho do exército atirando em manifestantes nas ruas. Não viemos aqui para nos divertir. Na verdade, ninguém se diverte muito por aqui.

Viemos gravar um documentário sobre os jovens de Novokuznetsk que estão sendo tomados por uma epidemia de heroína – uma realidade oposta a de Vladimir Putin, na qual a reformulada juventude russa, formada por super-humanos, vive em um mundo maravilhoso, próspero e livre. A realidade é que, atualmente, os russos consomem 21% da heroína do mundo. A heroína em Novokuznetsk é de um branco cremoso, a mais pura que se pode comprar em qualquer lugar. Ela vem do Afeganistão e, reza a lenda local, é trazida da fronteira do Cazaquistão pelo Talibã como forma de vingança pela invasão russa de 1979.

Mas antes de partirmos para nossa viagem, ouvimos sussuros sobre uma nova droga chamada krokodil – uma versão caseira de heroína feita com gasolina e codeína – que ganhou esse nome porque deixa a pele do viciado escamosa enquanto corrói a pessoa por dentro, apodrecendo o cérebro e os membros antes de, invariavelmente, matar os usuários.

Quando chegamos lá, descobrimos que os sussurros sobre o krokodil estavam ficando cada vez mais altos e insistentes, como o som de um grito de quem acorda abruptamente depois de um pesadelo.


Entrada de Gorgovski. É uma fileira de blocos de torres abandonadas habitadas por jovens, muitos dos quais viciados em heroína e krokodil. Aqui, um jovem vomita depois de injetar heroína em um buraco imundo cheio de mosquito. O episódio Hamsterdam de A Escuta ficou parecendo uma festa inglesa de jardim esquisita.

VICE: Oi, Alison. Você apresentou e coproduziu nosso documentário. O que você aprendeu sobre o krokodil?
Alison Severs: As histórias que ouvimos sobre o krokodil soavam comos lendas urbanas, mas quando chegamos à Sibéria vimos que a coisa era bem real. Conhecemos usuários de krokodil que perderam a capacidade de andar e falar normalmente. Fomos a uma funerária onde passavam o dia grampeando veludo e colando cruzes em caixões baratos de madeira compensada para conseguir suprir a demanda. Os agentes funerários disseram que toda semana morrem dois ou três viciados em heroína de comunidade diferentes.

Por que o consumo de droga se tornou tão comum?
Nos anos 80, depois da invasão do Afeganistão, as pessoas começaram a usar ópio. Nos anos 90, foi a vez da heroína. E agora, heroína e krokodil. Tem várias teorias sobre o porquê disso acontecer. Uma delas é a chamada teoria do narcoterrosimo, segundo a qual o Talibã trouxe a droga para o país para vingar a invasão soviética do Afeganistão. Outra explicação é que é simplesmente impossível fiscalizar uma fronteira do tamanho da Rússia. Nosso segurança, o Alec, disse: “Se você quisesse, poderia contrabandear um elefante pela fronteira”.

Fomos à “feira livre”, o centro do tráfico de drogas na área. O que você achou?
Eu esperava encontrar velhinhas sentadas no chão vendendo picles e melancias e talvez um caminhão suspeito. Mas tinham uns 35 caminhões do Cazaquistão e os motoristas estavam negociando com os ciganos abertamente. Quando um deles viu nossas câmeras, começou a tocar a buzina para avisar os ciganos e motoristas. Achamos melhor ir embora.

E vários homens foram correrendo na direção do nosso carro.

Talvez eles só quisessem dizer “Oi!”, mas eu duvido.

Isso foi meio tenso. E o resto da cidade?
Deprimente. Os bairros são compostos de grandes complexos residenciais projetados para ficarem bem próximos uns dos outros, e de apartamentos para os trabalhadores das fábricas. Não tem um centro da cidade. As fábricas são rodeadas por propaganda enganosa: homens fortes dando duro para o bem da Mãe Rússia etc. Na verdade, os jovens não querem mais trabalhar nas fábricas.

Eles não querem trabalhar ou não têm emprego?
Antes de chegar, supus que a crise econômica estivesse alimentando o consumo de drogas, mas não. Há emprego e muitos viciados em heroína são funcionais o suficiente para trabalhar. Mas parece que não são todos que querem trabalhar.

Hoje existe uma subcultura da droga com a qual a sociedade russa não está preparada para lidar.

Não acho que seja uma subcultura. Se fosse, somente uma pequena parcela da sociedade usaria heroína, mas na verdade é muito mais do que isso. Não está restrito a uma área ou população, como em uma subcultura. Há áreas melhores, outras piores, mas em todo bairro tem viciado em heroína.

E gente tentando ajudá-los.
Conhecemos um cara chamado Sasha, cuja organização, a Pererozhdenie Rossii (Regeneração da Rússia), é uma das únicas que não é devotamente religiosa, apesar de eu ter visto algumas imagens sacras em seus centros. Muitas das igrejas são Protestantes e as pessoas que mantêm os centro de reabilitação geralmente são pastores. Algumas pessoas da Igreja Ortodoxa Russa consideram essas clínicas “servos do anticristo” porque trabalham ativamente com usuários de heroína.


Os blocos de torres turquesa onipresentes de Gorgovski refletidos em uma poça.

Eles pareciam boas pessoas.
E eram. O Sasha nos levou a algumas clínicas, inclusive uma onde as pessoas já estão limpas há tempo suficiente para falar aberta e honestamente sobre sua história. Na Rússia, a maioria das clínicas de reabilitação é independente e não fornece metadona e outros opiáceos aos dependentes que estão em crise de abstinência. Disseram que a interrupção imediata do uso é o melhor método para se livrar do vício da heroína.

E foi lá que conhecemos sua nova amiga.

Era uma menina de 21 anos chamada Alicia. Eu realmente me dei bem com ela, rolou uma coisa meio telepática, a gente se comunicou sem tradutor e falamos sobre o jardim dela.

Qual é a história dela?
Quando ela tinha 13 anos, seu namorado a viciou em drogas pesadas. Ela disse que usou várias drogas e que fez coisas “indesejáveis” para conseguir dinheiro. Heroína era sua droga preferida. Foi a primeira pessoa com quem falamos sobre krokodil. Ela disse que apodrece a pessoa por dentro, mas não tem muita diferença entre krokodil e heroína em termos de barato. Ela me contou sobre seus parentes que morreram por causa de krokodil e heroína, e nós duas choramos.

E em seguida saímos para dar uma volta na área dos ciganos.
O Sasha nos levou a um lugar chamado Forshtadt para ver como o consumo da heroína é comum entre os jovens. Adolescentes fazem suas atividades diárias totalmente na noia. As casas são feitas com chapa de ferro ondulada e madeira. Cachorros enormes latem por todo lado. Eles estavam acorrentados, mas mesmo assim tentavam nos atacar. O chão estava coberto de agulhas. Havia prostitutas andando pra cima e pra baixo na rua. Elas levavam homens para o mato e depois corriam para conseguir uma papelote de heroína ou krokodil.

Não era um lugar muito agradável, mas depois fomos para um lugar ainda pior.

Gorgovski. É uma propriedade abandonada de onde arrancaram de tudo que podia ser vendido, inclusive ferro. Quando entramos em um dos prédios, vimos agulhas usadas por toda parte e imagens pichadas nas paredes de caveiras com ossos cruzados com a palavra “AIDS” em cima. Quem nos levou até lá foi Alexey, um ex-dependente químico que hoje é pastor e faz trabalhos evangélicos e de reabilitação com jovens.

Conte sobre as escadas da propriedade.
Enquanto subíamos uma das escadas, eu pisei em fezes humanas. Não tinha corrimão na escada e ela estava bem frouxa. Parecia que is desabar a qualquer momento.

Lembro de andar sobre o que me pareceu ser lixo acumulado de meses. Isso dentro do apartamento de uma pessoa.
Também tinham mosquitos por todo lado, uns insetos listrados enormes. No apartamento conhecemos uma turma de adolescentes: Pasha, Seryoga, Dima e Sergey. Não tinha água corrente onde eles moravam.


Tudo bem trabalhar todo dia em uma siderúrgica por um salário baixo -- porque você está fazendo tudo isso por esses caras.

Eles tinham entre 15 e 17 anos, mas aparentavam ter mais. O rosto e as mãos do Dima estavam cheios de feridas abertas.
Você perguntou a ele por que ele não ia ao médico e ele disse: “Por que iria ao médico? Não tem nada de errado comigo”. Acho que usar heroína em Novokuznetsk é visto como uma escolha moral e os médicos não vão necessariamente ajudar alguém que se fodeu. Os serviços públicos já estão bem saturados. Lembro do Dima dizer: “Não me importo que me filmem, vou morrer na semana que vem”. Ele estava devendo dinheiro para traficantes.

Logo depois passamos outro momento marcante da viagem.
Através da igreja do Alexey, conhecemos um grupo que estava usando krokodil e morando no apartamento da mãe de um deles. Eles estavam completamente incapacitados depois de usar a droga por um ano e ela passou a cuidar deles. Eles foram viciados em heroína por algum tempo e depois começaram a parar de usar, mas por algum motivo decidiram que queriam aprender a cozinhar krokodil e passaram um mês e meio olhando receitas na internet.

Enquanto cozinhavam krokodil na cozinha, tentaram expulsar a mãe do garoto aos berros da própria casa.
Acho que conseguiram acertar a fórmula, porque quando chegamos lá nenhum deles conseguia se comunicar direito. Eram como zumbis do krokodil. Não tinha nada nos olhos deles.

E naquela noite acabamos na casa do Alexey para um encontro de oração com alguns ex-usuários de heroína e krokodil.
Algumas pessoas culpam os anos soviéticos “sem Deus” – quando a religião era considerada “o ópio das massas” – pelo declínio na sociedade e pelo comportamento imoral e hedonista. Hoje, muitos ex-dependentes estão substituindo os vícios pela religião. O Alexey disse que a União Soviética deu a Satanás carta branca para matar no fim dos anos 80, por isso as pessoas se tornaram viciadas em heroína. Ele me disse que é uma guerra de almas. Então ele acorda toda manhã e se prepara para a guerra contra o diabo.

Nossa anfitriã/co-produtora Alison Severs conta uma piada para a equipe depois de um dia com adolescentes viciado sem krokodil.


Pastores alemães enormes estão por toda parte nas regiões ciganas da cidade, tentando te atacar subitamente por trás das cercas e te provocando ataques cardíacos.


Um morador do centro de reabilitação Forshtadt exibe suas tatuagens de cadeia.


Alicia posa em seu quarto no Forshtadt.


Uma paciente adolescente de um centro de reabilitação para mulheres. Sua mãe a obrigou a entrar para a prostituição e a usar heroína quando ela tinha 12 anos.


Alexey promove um encontro de oração em seu apartamento.


Um catador de sucata injeta três papelotes de heroína afegã em uma ferida aberta sobre uma tatuagem de dragão.


Espaço usado por viciados em heroína e krokodil quando estão com vontade de se divertir.


Deus chora sobre o mundo: pintura em um centro de reabilitação para meninas que estão largando a heroína.


Dima e Pasha depois de injetar uma mistura de heroína, colírio e pílulas.


Caixões de madeira compensada presos uns aos outros com grampos empilhados em uma das muitas funerárias de Novokuznetsk.


Dois ex-viciados em krokodil na casa da mãe. Nunca vimos ninguém com olhos tão vidrados.


FONTE: