Milagres são a arma do 'exército' de São Jorge
No dia do santo mais popular do Rio e da Internet, devotos contam graças alcançadas
O que há em comum entre um parto de alto risco, um tiro à queima-roupa e uma doença incurável? Quem é devoto de São Jorge sabe a resposta na ponta da língua: “É só pedir que ele abre os caminhos e preserva a vida”. Os milagres atribuídos ao Santo Guerreiro vão completar 18 séculos amanhã, quando legião de fiéis vai lotar igrejas e terreiros para homenagear o santo mais popular do Estado do Rio de Janeiro.
Mesmo sem entender nada sobre fé, a pequena Júlia se alistou no Exército de Jorge no dia em que nasceu, 23 de abril. Há dois anos, a menina veio ao mundo com o cordão umbilical enrolado no pescoço. A cirurgia era tão delicada que foi marcada duas semanas antes de a mãe, a estudante Danielle Figueiredo, 24, completar nove meses de gestação. Aquele 18 de abril de 2008 marcou a família. “A bisavó da Julinha pressentiu que havia risco de morte para o bebê. Não tinha como avisar à futura mamãe, que já estava na maternidade, pronta para a cesariana. Ela acendeu uma vela e rezou a manhã inteira”, revela o avô de Júlia, o jornalista Guilherme Moitas, 46.
“Só sei que a maternidade ficou pior que o INSS, com filas de partos e cirurgias de emergência. Minha obstetra, sete horas depois, disse que era melhor adiar o nascimento da minha filha para o dia 23”, descreve Danielle. A cirurgia, no Dia de São Jorge, levou só 30 minutos. “Ainda ouvi a instrumentadora falar: ‘Bota o nome dela de Jorgina’. Com todo o respeito, fiquei só com o jota de Jorge”, brinca.
Mais enroscado que a pequena Júlia ficou o devoto de Ogum (nome do santo no Candomblé) Oswaldo José de Senna Filho, o Cotoquinho, 51. Diretor do Afoxé Filhos de Ghandi, ele viu a morte de perto após discutir com um traficante no Morro de São Carlos, no Estácio, onde levou o grupo para se apresentar há sete anos. “Coloquei a mão na frente da arma por puro instinto, e só veio pólvora. Acredite, só pólvora!”, garante.
Professor de instrumentos de percussão e vocalista do Afoxé, Cotoquinho admira São Jorge desde menino. “Fui criado no candomblé e reconheço a importância da energia de Ogum (São Jorge). O vermelho representa a força e o branco, a paz. Faço questão de andar vestido e armado com as armas dele para que meus inimigos não me alcancem”, diz ele, citando um trecho da oração ao santo.
CIRURGIA DESCARTADA
Luci Vicente de Faria, 63, é outra que agradece todos os dias. “Minha filha, Andréia, sofria de endometriose (doença que desloca partes do endométrio para fora do útero) e os médicos queriam fazer cirurgia”, recorda. Sacristã-mor da Igreja da Venerável Confraria de São Gonçalo Garcia e São Jorge, na Rua da Alfândega, no Centro, a devota não hesitou. “Fui conversar com Jorge e, como sempre, ele atendeu: minha filha está curada e não precisou ser operada. Quem é devoto sabe que ele mata o dragão que nos aflige”, poetiza.
Para o padre Marcelino Modelski, da Paróquia de São Jorge em Quintino, a popularidade do santo merece um estudo antropológico. “Vencer as forças do mal, representadas pelo dragão, usando a espada e a lança, estimula o imaginário das pessoas. O dragão é o obstáculo a ser superado. Todo mundo tem um obstáculo a ser vencido e São Jorge simboliza a vitória sobre a adversidade”, explica. Descendente de poloneses, o padre reconhece que os devotos de São Jorge formam um exército que ultrapassa a religiosidade. “Jorge transcende o catolicismo por ser adorado por outros grupos religiosos e ganha força fora de série que precisa ser respeitada e estudada, profundamente, para termos uma visão mais ampliada do simbolismo que envolve o santo há 18 séculos”, admite.
Mais de 500 mil devotos devem participar, amanhã, das festas em homenagem ao santo no Rio e na Baixada Fluminense, de acordo com a previsão da Arquidiocese do Rio. Em todas, haverá alvorada e queima de fogos, além das tradicionais procissões.
Santo é o mais popular no Orkut e Facebook
A fama do santo transcendeu o espaço das igrejas e dos terreiros de candomblé e umbanda. Na Internet, o site de relacionamentos Orkut exibe oito comunidades oficiais. A principal reúne 84.561 pessoas. Nem o casamenteiro Santo Antônio, que tem 27.029 inscritos na sua maior comunidade de devotos, chega aos pés de Jorge. Na rede social Facebook, São Jorge é o campeão de audiência, com mais de 3 mil fãs, superando Nossa Senhora Aparecida, Santo Antônio e Santo Expedito.
Jorge nasceu na Capadócia, na Turquia, viveu na Palestina e morreu na Lídia, decapitado no ano 3, após ser humilhado, torturado e envenenado por ser cristão. Ele é padroeiro da Inglaterra, Grécia, Portugal, Espanha, Lituânia, Geórgia, Região da Catalunha e de cidades europeias, como Veneza, Gênova e Moscou.
PARA DEVOTOS
PROGRAMAÇÃO
PROGRAMAÇÃO
O arcebispo do Rio, Dom Orani, participará da alvorada no Centro e celebrará 4 missas. A primeira, após a queima de fogos na Igreja de São Jorge, na Rua da Alfândega; às 10h, em Quintino; às 15h, no Forte de Copacabana; e às 17h30, em Santa Cruz. Após a missa do Forte, haverá motosseata.
AMBULANTES
PADRE MIGUEL
NOVA IGUAÇU E GUAPIMIRIM
Centro e Quintino têm esquema especial de trânsito para festejos de São Jorge
Atenção motoristas, a CET-Rio autorizou a interdição de várias ruas e alterações no trânsito no entorno da Praça da República, no Centro, e no bairro de Quintino, na Zona Norte, onde estão programados festejos do dia de São Jorge, na sexta-feira.
Na Praça da República, no Centro, serão fechadas a via junto à praça, em frente ao Campo de Santana, na pista da direita entre a Avenida Presidente Vargas e a Rua da Constituição. O fechamento se estenderá à pista lateral da Av. Presidente Vargas, no sentido Centro e junto à praça, em frente ao Campo de Santana, das 6h à meia-noite de sexta-feira.
Entre 22h de sexta-feira até o meio-dia de sábado, a interdição será na pista de serviço da Praça da República, lado esquerdo, entre a Avenida Presidente Vargas e a Rua Buenos Aires. Os motoristas devem optar pelo estacionamento no sistema Rio Rotativo, que funcionará em trechos de quatro vias próximas à Igreja de São Jorge:
- na Avenida Presidente Vargas, pista lateral no sentido Centro, entre a agulha após a Avenida Tomé de Souza e a Avenida Passos;
- na Rua Buenos Aires, lado esquerdo, entre a Av. Tomé de Souza e a Praça da República;
- na Praça da República, pista de serviço no lado esquerdo, entre as ruas Buenos Aires e Visconde do Rio Branco;
- e na Rua República do Líbano, lado direito, entre as ruas Visconde do Rio Branco e da Constituição e entre as ruas Buenos Aires e da Constituição.
Em Quintino, serão interditadas - das 18h de quinta-feira até 6h da manhã de sábado - três vias no entorno da Igreja Matriz de São Jorge: a Praça Quintino Bocaiúva (todo o entorno, menos o da Rua Nerval de Gouveia) e as ruas Clarimundo de Melo (da Rua Bernardo Guimarães à Rua Assis Carneiro) e da República (entre a Clarimundo de Melo e a Praça Quintino Bocaiúva).
O tráfego será desviado, exceto no horário da procissão. Da Rua Clarimundo de Melo para a Avenida Amaro Cavalcanti, os motoristas deverão seguir pelas ruas Bernardo Guimarães, Nerval de Gouveia, Elias da Silva, Assis Carneiro e Clarimundo de Melo.
Na sexta-feira, a Rua Clarimundo de Melo será fechada das 15h às 19h a procissão em honra ao Santo Guerreiro, desde a Rua Bernarndo Guimarães até a Rua Padre Telêmaco, e esta fecha desde a Clarimundo de Melo até a Rua Ernani Cardoso. Também serão bloqueadas as ruas Elias da Silva (entre a Rua Nerval de Gouveia e o Viaduto Compositor Wilson Batista) e Nerval de Gouveia (da Rua Bernardo Guimarães a Elias da Silva).
Da Rua Ernani Cardoso para a Av. Amaro Cavalcanti, o tráfego será orientado a seguir pelo Viaduto Washington Luís, a Avenida D. Helder Cãmara, as ruas da Pedreira, Goiás e Euzébio de Matos, e ainda pela Praça dos Garis, Rua Manuel Vitorino, Praça Sargento Eudóxio Passos e Rua Clarimundo de Melo, usando esta para acessar a Amaro Cavalcanti. Já da Clarimundo de Melo para a Rua Ângelo Dantas, o trânsito será desviado para as ruas Assis Carneiro e Elias da Silva, o Viaduto Wilson Batista, as ruas Goiás e Cupertino e a Avenida D. Helder Câmara.
O estacionamento de veículos será proibido nos dois lados da Rua Clarimundo de Melo, desde a Rua Bernardo Guimarães até a Rua Assis Carneiro, e também na Rua João Barbalho, da Clarimundo de Melo ao acesso para o Viaduto Wilson Batista.
No domingo, procissão no Centro fecha a pista de serviço da Praça da República, entre a Avenida Presidente Vargas e a Rua Buenos Aires. A partir das 10h, a procissão ocupará duas faixas de trânsito no lado direito da igreja, na Praça da República, seguindo pelas avenidas Presidente Vargas e Passos, pela Praça Tiradentes e a Rua Visconde do Rio Branco, voltando pela Praça da República até a igreja.