O número de pessoas mortas em confrontos com a polícia do Rio aumentou 150% no período de um ano. É o que mostram os índices de criminalidade relativos a agosto divulgados, quarta-feira, pela Secretaria estadual de Segurança. Enquanto em agosto de 2008 foram registrados 30 autos de resistência, em agosto deste ano foram 75 - uma média de 2,41 mortes por dia em ocorrências policiais.
Numa comparação com São Paulo, a polícia do Rio mata mais na hora de combater a criminalidade. No estado paulista, foram registrados 269 autos de resistência, de janeiro a junho deste ano. No Rio, foram 561 casos, o que equivale a três mortes por dia. Mais do que o dobro. Detalhe: o Estado de São Paulo é quase cinco vezes maior e tem 158% a mais de habitantes.
- Não podemos nos prender à análise de mês. Pode-se relativizar e dar a significação que se quiser sobre os índices. Não dou muita importância para o índice, tem que se analisar no contexto histórico - disse o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame.
Segundo o comandante da PM, coronel Mário Sérgio Duarte, o número de autos de resistência vem numa curva crescente desde 1998. Ele acrescenta que, nos últimos anos, os bandidos ficaram mais armados, o que deu a eles uma disposição "maior de ação no enfrentamento".
Quanto ao salto de autos de resistência de agosto de 2009 em relação a agosto de 2008, o coronel cita, "numa primeira análise", dois possíveis motivos: o assassinato do garoto João Roberto, de 3 anos, em julho de 2008; e a morte do funcionário da Infoglobo Luiz Carlos Soares da Costa.
- Os dois casos foram erros graves (envolvendo policiais) - disse Mário Sérgio, para quem, depois desses episódios, os policiais podem ter ficado mais receosos, e isso pode ter influenciado na atuação deles e, em consequência, nos números de autos de resistência de agosto de 2008.
Em junho de 2008, foram 105 autos de resistência; em julho, 62.
- A instituição (a PM) ficou chocada e parou de atuar, se ressentiu - concordou Beltrame.
Críticas
Os integrantes da CPI da Violência Urbana estão percorrendo o país para analisar as particularidades do problema em cada estado. Nesta quinta-feira, houve uma audiência pública no Rio. O relator da comissão, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), criticou o alto número de autos de resistência no estado, em relação a São Paulo:
- Precisamos ver o que acontece com o Rio. Como na cidade de São Paulo há cerca de 300 autos de resistência por ano e no Rio, que é menor, são 1.200?
Citados como dois motivos para a redução dos autos de resistência no Rio, logo após julho de 2008, a morte do garoto João Roberto e de Luiz Carlos Soares geraram comoção. João Roberto foi baleado na Tijuca, quando policiais militares metralharam o carro de sua mãe, acreditando que nele havia criminosos.
Poucos dias depois, ainda em julho, morreu baleado o administrador Luiz Carlos Soares da Costa. Ele havia sido vítima de sequestro-relâmpago. Durante troca de tiros entre policiais e bandidos, Luiz Carlos acabou atingido. Segundo a família dele, os PMs confundiram a vítima com um criminoso.
Câmara vota crime de milícia
O presidente interino da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Violência Urbana, deputado federal Raul Jungmann (PPS-PE) disse, nesta quinta-feira, que a Câmara deve votar, no máximo em 15 dias, as emendas feitas pelo Senado ao projeto que classifica o "crime de milícia" no Código Penal.
- Hoje, quem comete esse tipo de crime é punido com base em outros crimes. Haverá uma classificação da prestação de serviços clandestinos de segurança e as penas serão bastantes duras - disse Jungmann, que é um dos autores da lei.
Depois de aprovada pela Câmara, o projeto vai a sansão do presidente Lula.
Durante a audiência, o secretário de Segurança, José Beltrame, informou que a meta principal da secretaria é a redução dos índices de criminalidade:
- Não temos a pretensão de acabar com a violência, mas as Unidades Pacificadoras (UPPs) foram planejadas para criar ambientes de paz em comunidades dominadas pelo crime organizado. Hoje, temos comunidades pacificadas e a mais emblemática é a Cidade de Deus. Foram 45 anos sob o domínio do tráfico e, desde que foi pacificada, só tivemos um caso de homicídio.
Mudança de metodologia nos dados
O salto de 165% nos números de roubo de carga entre agosto de 2008 e de 2009 - de 86 para 228 - foi explicado pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) como resultado da mudança na contabilização dos crimes. Para atender ao padrão da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), o ISP fez com que o item "roubo de carga" passasse a agregar a situação de roubo parcial de carga. Ou seja, não é mais necessário que toda a carga seja roubada para que o crime seja registrado dessa forma, ao contrário do que acontecia anteriormente.
Assim, com a mudança na forma de contabilizar os dados, o número de roubos de carga em agosto de 2008 saltou de 86 para 237 casos. A Secretaria estadual de Segurança informou que os dados divulgados no Diário Oficial nos anos anteriores a 2009, e ainda presentes no site do ISP, não estão errados, apenas seguem uma metodologia diferente.