sábado, 5 de novembro de 2011

NA MANGUEIRA, ONDE ATÉ O TRÁFICO TEM RAIZ, MORADORES MAL FALAM COM POLICIAIS DA UPP

Quando o assunto é a implantação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) na Mangueira, o que parece passar pela cabeça do morador de lá é o início da letra do clássico "O mundo é um moinho", de Cartola: "Ainda é cedo, amor..." Duas semanas depois da ocupação policial, o tema UPP permanece tabu entre os moradores que, até a última sexta-feira, sequer davam bom-dia aos policiais do Bope que ocupam a parte alta do morro.

Muitos moradores se calam, por medo de sofrer retaliações. Já outros acreditam que, até a chegada dos "estrangeiros" (bandidos de outras favelas), o tráfico não era problema do morro, mas da polícia.

- Essa rapaziada que estava agora era abusada. Já os antigos, que moravam aqui, eram respeitadores. Queimavam a mão para esconder o cigarro de maconha quando as senhoras passavam. E mandavam os moleques carregarem as compras para elas. Eram outros tempos - lembrou um antigo morador.
De 19 de junho do fluente ano (dia da ocupação) até a última sexta-feira, o Disque-Denúncia (2253-1177) recebeu 252 ligações sobre traficantes, a maioria dizendo para onde os criminosos fugiram. No entanto, de dentro da favela - que tem cerca de 17.800 moradores - partiram apenas 17 denúncias. Um contraste com o que ocorreu no Complexo do Alemão: no dia da ocupação, em novembro de 2010, foram registradas 1.136 ligações para o serviço.

- A ocupação aqui é muito diferente da que ocorreu no Complexo do Alemão. Lá, os moradores jogavam bilhetes informando onde estavam armas e traficantes. Aqui sequer falam com a gente - contou um dos PMs que se revezam 24 horas por dia no local conhecido como Caixa D'Água, na parte mais alta do morro, onde até duas semanas atrás funcionava um QG de traficantes do vizinho Morro dos Telégrafos.

Os poucos moradores que falam sobre a ocupação dizem que a operação ali começou com o pé esquerdo.

- Ficou pior, porque a Operação Choque de Ordem (da prefeitura) derrubou os quiosques próximos à quadra, tirando o emprego de alguns e a distração de muitos moradores - disse um morador da localidade do Buraco Quente, onde o tráfico mantinha o seu principal ponto de venda de drogas, principalmente nos dias de evento na quadra da escola de samba.