Após ler matéria em um periódico carioca sob o título "Polícia usará nova lei para enquadrar grupos radicais", postado no endereço eletrônico http://odia.ig.com.br/noticia/rio-de-janeiro/2013-10-09/policia-usara-nova-lei-para-enquadrar-grupos-radicais.html, em 09 de outubro do corrente ano, relatando também manifestação dos professores e atos de vandalismo provocados pelo grupo que se intitula Black blocs no supracitado dia, pude visualizar algumas imagens que me fizeram recordara leitura a alguns anos atrás do livro "Comando Vermelho. A História Secreta do Crime Organizado, de Carlos Amorim".
CLICK NAS IMAGENS PARA AMPLIAR
SINOPSE - COMANDO VERMELHO - A HISTÓRIA SECRETA DO CRIME ORGANIZADO - CARLOS AMORIM
A reportagem de Carlos Amorim revela o que realmente é o Comando Vermelho: um filhote da ditadura militar. Criado na cadeia onde a repressão jogou, juntos, presos políticos e comuns, cresceu no vazio político e social ao qual o capitalismo selvagem relegou a grande massa, o povo das favelas, da periferia. Filho da perversa distribuição de renda, da falta de canais de participação política para esse povo massacrado, o Comando Vermelho pôde parodiar impunemente as organizações de esquerda da luta armada, seu jargão, suas táticas de guerrilha urbana, sua rígida linha de comando. E o que é pior: com sucesso. A cada capítulo, desde o início, o leitor se convence do irremediável: o Comando Vermelho não é apenas um caso de polícia. É um câncer político.
Comando Vermelho. A História Secreta do Crime Organizado, de Carlos Amorim, é um trabalho de valor excepcional, cuja leitura se recomenda a todos os brasileiros que se preocupem com o futuro deste país. Futuro do qual se pode ter um vislumbre pelas palavras de William Lima da Silva, o "Professor", fundador e guru do Comando Vermelho, citadas à p. 255:
"Conseguimos aquilo que a guerrilha não conseguiu: o apoio da população carente. Vou aos morros e vejo crianças com disposição, fumando e vendendo baseado. Futuramente, elas serão três milhões de adolescentes, que matarão vocês [ a polícia ] nas esquinas. Já pensou o que serão três milhões de adolescentes e dez milhões de desempregados em armas?"
O fenômeno da conscientização e o surgimento do chamado crime organizado só vão aparecer na década de 70.
Houve portanto aí a introdução de um fator novo, de uma diferença específica no tipo de influência exercido pelos militantes sobre os bandidos. Essa diferença residiu essencialmente no conteúdo das informações transmitidas: em vez de simples doutrinação ideológica, os bandidos receberam ensinamentos práticos, que puderam por em ação tão logo saíram da cadeia. Que ensinamentos foram esses?
Primeiro, princípios de organização, que incluíam desde a estrutura hierárquica e disciplinar do grupo armado até sistemas de comunicação em código.
Em seguida, técnicas de propaganda ou agitprop, que lhes permitiram transformar assaltos e sequestros em espetáculos de protesto — "propaganda armada", no jargão esquerdista —, que ganham a simpatia ao menos parcial da população e daintelligentzia.
Terceiro, táticas de ação armada. Aqui a lista é grande. Dentre os procedimentos usados pela guerrilha e copiados pelo Comando Vermelho, pode-se destacar os seguintes:
1 - Realização de assaltos simultâneos em vários bancos, para desorientar a polícia.
2 - Com o mesmo objetivo, bombardear os postos policiais com dezenas de alarmes falsos, no dia dos assaltos planejados.
3 - Não sair para uma operação armada sem deixar montado um "posto médico" para atender os feridos ( que antes os bandidos deixavam à sua própria sorte, expondo-se à delação por vingança ).
4 - Em caso de emergência, invadir pequenas clínicas particulares selecionadas de antemão, obrigando os médicos a dar atendimento aos feridos.
5 - Planejamento e organização de sequestros.
6 - Designar para cada operação um "crítico", que não participa da ação mas apenas observa e assinala os erros para aperfeiçoar a ação seguinte.
7 - Planejar as ações armadas com exatidão, de modo a obter no mínimo de tempo o máximo de rendimento com o mínimo derramamento de sangue. ( Hoje o Comando Vermelho consuma em quatro ou cinco minutos um assalto a banco. )
8 - Técnicas para o bando retirar-se do local da ação em temporecord, aproveitando-se da conformação das ruas, do congestionamento, etc., ou provocando deliberadamente acidentes de trânsito.
9 - Planejamento cuidadoso de todas as ações, segundo o princípio de Carlos Marighela: "Somos fortes onde o inimigo é fraco. Ou seja: onde não somos esperados."
10 - Informação e contra-informação como base do planejamento.
11 - Sistema de "aparelhos" — casas compradas em pontos estratégicos da cidade, para ocultar fugitivos após as operações, guardar material bélico etc.
O quarto e último grupo de ensinamentos dizia respeito à seleção das melhores armas para cada tipo de operação, e ainda à fabricação de explosivos apropriados para o uso na guerrilha urbana, como coquetéis-molotov com uma fórmula especial preparada por estudantes de Química e "bombas de fragmentação com pregos acondicionados junto à pólvora e enxofre num tubo de PVC ou numa lata do tamanho de uma cerveja".
O conjunto forma um curso completo de guerrilha urbana, apoiado ainda numa bibliografia especializada, que incluía O Pequeno Manual do Guerrilheiro Urbano, de Carlos Marighela,Guerra de Guerrilhas, de Ché Guevara, e A Revolução na Revolução, de Régis Débray, além de A Guerrilha Vista por Dentro, de Wilfred Burchett. Este último é apenas uma reportagem feita no Vietnã por um correspondente de guerra inglês; mas entre os militantes era tão prezado quanto as obras de guerrilheiros profissionais, e sua circulação chegou a ser proibida no Brasil durante os governos militares, porque "mostra como o vietcongue fabricava munição, inclusive com uma fórmula para se produzir pólvora caseira. Explica também como funcionava o sistema de túneis para a fuga dos comandos guerrilheiros, com iluminação a partir de geradores movidos a roda de bicicleta. O livro fala ainda dos códigos, do correio baseado em bilhetes entregues de mão em mão, de aldeia em aldeia. Um manual de guerra revolucionária que contém longas explanações de tática e estratégia. Enfim, dinamite pura". Rematavam a bibliografia clássicos da literatura marxista — Marx, Lênin — e obras menores de doutrinação.
Todos esses ensinamentos foram depois levados à prática pelo Comando Vermelho, que demonstrou possuir até mesmo um domínio mais extenso deles do que as próprias organizações guerrilheiras: "O crime organizado foi muito além do que a luta armada tinha conseguido nos anos 70, tanto em matéria de infra-estrutura quanto na disciplina e organização internas". Como bem resumiu o assaltante de bancos Vadinho ( Oswaldo da Silva Calil ), que viu tudo de perto na Ilha Grande, "os alunos passaram a professores".
RECORD VAI RELANÇAR “COMANDO VERMELHO”
Publicado em 26/10/2010 por Carlos Amorim
A Editora Record vai relançar o livro “Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado”. Esta foi a minha primeira publicação a respeito do fenômeno da violência urbana e do crime organizado no Brasil. Chegou às livrarias em 1994 e foi premiado com o Jabuti da Câmara Brasileira do Livro, na categoria “Reportagem”. Foi o primeiro volume da trilogia que inclui “CV_PCC – A irmandade do crime” (2004) e “Asssalto ao Poder: O crime organizado” (2010). Assim, no início do próximo ano, todo o trabalho, que reúne mais de 1.400 páginas impressas, estará disponível para os leitores.
O “CV” será reimpresso sem alterações no texto original, a não ser um novo prefácio, do jornalista Domingos Meirelles (O Globo, Jornal da Tarde, Globo Repórter, Fantástico, Linha Direta) e uma nota explicativa do autor. Dessa vez, será em formato livro de bolso, uma edição popular, para venda em bancas de jornais, rodoviárias, aeroportos etc. E terá preços acessíveis. “Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado” foi a primeira investigação jornalística a desvendar os bastidores do surgimento de uma organização de presos comuns nas cadeias brasileiras, na segunda metade dos anos 1970 e no início dos anos 1980, como resultado da convivência entre presos políticos e comuns na Ilha Grande, durante a ditadura militar.
Para quem não conhece a história desde o início, é preciso considerar que muitos de seus personagens já não estão entre nós – e novos elementos surgiram ao longo dos anos.