“O Policial Civil L.C. foi encontrado morto em Sobradinho/DF com um tiro no coração. A vítima estava em serviço, sozinho, em uma viatura descaracterizada. Houve tentativa de reação por parte do policial, que estava com a arma na mão. Como ele estava em serviço, existe a hipótese de que tenha recebido um chamado de um informante e sido vítima de uma emboscada. L.C. era um policial antigo, experiente, atleta e fazia um excelente trabalho. Ele era um ótimo policial, investigador e linha de frente.” (Tribuna do Brasil, 09/10/2009).
“O Policial Federal F.S. foi morto com sete tiros na madrugada desta quinta-feira. Segundo a polícia, ele teria reagido a um assalto, sendo assassinado com sua própria arma.” (Portal ORM, 08/10/2009). “Elas são garotas de programa e atraíram a vítima. Elas entraram em contato com os assaltantes e eles já estavam à espera do carro, mas não sabiam que ele era policial. As meninas são responsáveis por fazer a ‘casinha’ para atrair as vítimas até o canal, onde posteriormente são abordadas pelos assaltantes. Para disfarçar, as garotas fingem que são vítimas.” (Portal Gterra, 09/10/2009).
Logo após saber sobre os terríveis assassinatos desses policiais, o primeiro em Brasília/DF e o outro em Belém/PA, um colega disse transtornado: “Eles só morreram porque eram policiais!” Mas embora esta afirmativa seja verdadeira em muitos casos de homicídios de policiais, é preciso perceber outro elemento importante nas ocorrências.
Esse outro elemento se combina com a escolha profissional para formar a razão principal pela qual policiais acabam envolvidos em ocorrências perigosas e violentas. E então só é preciso uma fração de segundo para que você seja arrastado para uma situação além do seu controle. E o estrago que você vai sofrer como resultado da violência irá durar a vida toda, de um jeito ou de outro.
A violência é uma situação extrema, e as regras convencionais não se aplicam em situações desse tipo. As prioridades do cotidiano e os conceitos de civilidade que você possui não se aplicam. O importante é reconhecer quando você está se comportando de maneira arriscada para que saiba quando seu modo de vida não é suficiente para mantê-lo protegido. Para estar a salvo, você deve estabelecer uma prioridade maior em relação à sua conduta cotidiana: sua segurança.
Assim, ostentação, vaidade, despreocupação, orgulho, preguiça, falta de tempo, EXCESSO DE AUTOCONFIANÇA e BOEMIA parecem muito importantes até que você esteja diante do cano de uma arma.
Mas se você nunca se viu diante dos horrores da violência, as chances estão contra você reconhecer os sinais de perigo. E sem conhecer sinais óbvios, são boas as chances de que você continue agindo na sua forma habitual. Fazendo isso, você aumenta sua possibilidade de ser vitimado pelo crime e pela violência, pois não está efetivamente evitando o perigo.
Para muitas pessoas, inclusive policiais, a ideia do uso da força física é ao mesmo tempo terrível e repulsiva. Sabendo que muitos não desejam ou não querem usar a força física para se proteger, evitar o perigo se afastando de conflitos e de indivíduos perigosos (homens ou mulheres) é a razão principal para você utilizar o mecanismo da PREVENÇÃO. Estado de alerta, hábitos saudáveis, CONVÍVIO COM PESSOAS DISTINTAS EM AMBIENTES SELECIONADOS e TRABALHO EM DUPLA são estratégias muito mais compensadoras que o uso da força física ou letal. Lembre-se: sua primeira linha de defesa é a prevenção; depois a sua arma de fogo.
Para evitar ser vitimado, você deve ter certo grau de flexibilidade mental. Isso significa permitir a você mesmo fazer o que for necessário para vencer um combate, tanto quanto evitar o confronto violento sempre que possível.
Em resumo, toda vez que você sai de uma situação potencialmente violenta sem ser roubado, espancado ou assassinado, e sem usar a força física, já é uma vitória. E não importa como você evitou a situação.
Mas você está em perigo? A resposta é: DEPENDE. Risco é uma questão de graus. Seu risco aumenta ou diminui dependendo de sua atividade e comportamento.
Existem estilos de vida em que a violência é generalizada. Se você vive de certo modo ou ASSOCIADO A CERTOS TIPOS DE PESSOAS (como garotas de programa das periferias e informantes), seu grau de risco aumenta. Por exemplo, se você frequenta boates, botecos, áreas de prostituição, chega bêbado em casa, namora dentro do carro e se encontra sozinho com um informante numa estrada isolada, então sua chance de ser vitimado um dia é grande. Crime, violência e suas infelizes consequências são o resultado natural de modos particulares de pensamento e comportamento. Dessa maneira, não é uma questão de “se acontecer”, mas “quando”.
Enquanto pesquisadores tentam estabelecer razões sociais, fisiológicas e psicológicas para a criminalidade e a violência, está claro que pessoas violentas e delinquentes tendem a serem violentos. E isso é o que basta para você manter distância desses indivíduos!
Comportamento de risco consiste largamente em se envolver com pessoas ou situações perigosas. Essas situações conduzem você a estar próximo de pessoas predispostas a cometerem atos violentos. De um modo ou de outro, elas estão mais inclinadas a se tornarem violentas com as pessoas que conhecem ou que estão envolvidas com elas. Então, quanto menos você se envolve em certos tipos de comportamento, mais você reduz sua chance de ser selecionado como alvo de criminosos.
Se suas ações ou comportamento não o colocam em uma categoria de risco, então simplesmente seu bom senso pode reduzir a possibilidade de você se tornar uma vítima.
Contudo, se você está envolvido em uma conduta de alto risco, como policial sua arma pode até ajudá-lo em alguma coisa, mas não será suficiente para salvar você. Por quê? Porque é mais fácil fazer algo para evitar a violência do que se safar no meio de um confronto armado repentino e a curta distância.
Sua segurança SEMPRE deve estar em primeiro lugar!
Humberto Wendling é Agente de Polícia Federal e Instrutor de Armamento e Tiro na Delegacia de Polícia Federal em Uberlândia/MG.