Por: Aurílio Nascimento em 24/04/13 16:02
Ganhou destaque na imprensa nacional, uma pesquisa que aponta a Polícia Militar do Rio de Janeiro como a mais corrupta do país. Utilizando artifícios matemáticos questionáveis, bem como dados comparativos nada científicos, a pesquisa afirma que o estado de São Paulo, com um contingente policial militar bem maior do que o Rio de Janeiro, fica em segundo lugar no quesito corrupção. Já escrevi aqui sobre pesquisas e estatísticas, demonstrando que na grande maioria tais pesquisas são na verdade apenas uma justificativa para a gastança do dinheiro público, sem nenhum resultado positivo para a sociedade. Fazer, controlar e divulgar pesquisas são os sonhos de dez entre dez ólogos e ólogas que se aventuram na predileta questão da segurança pública.
A lista de adjetivos para classificar a tal pesquisa que aponta a PM do Rio de Janeiro como a mais corrupta é extensa: inócua, imoral, tendenciosa e covarde são apenas alguns. Inócua, pois nenhum resultado positivo trará para a sociedade; imoral, já que desprovida de qualquer princípio ético; tendenciosa, pois estigmatiza toda uma classe de trabalhadores, e covarde, pois não permite argumentos contrários, além de criar a sensação de que o simples fato de ser policial militar é antes de tudo ser corrupto.
Receber vantagem financeira ou não para a prática de ato condenável, sob o ponto de vista legal ou moral, é um comportamento que acompanha o homem desde que desceu das árvores, o que nunca deveria ter ocorrido.
Fosse ao mínimo honesta, a tal pesquisa, se é que pode ser assim classificada, faria perguntas aos entrevistados sobre o chamado Mensalão, o maior roubo de dinheiro público descoberto para a compra de apoio político. Dentro da quadrilha descoberta, não havia policiais militares do Rio de Janeiro. Os pesquisadores poderiam prosseguir, indagando sobre a chamada Máfia dos Fiscais, escândalo de corrupção ocorrido em São Paulo, no governo de Celso Pitta, onde também não havia policiais militares, nem de São Paulo e nem do Rio de Janeiro. Setecentas pessoas, entre grandes empresários e gerentes de banco, foram os responsáveis pelo desvio de US$ 24 bilhões de dólares para o exterior, no caso conhecido como Banestado. Também aqui não se tem conhecimento da participação de nenhum policial militar. Aproximadamente R$ 5,1 bilhões foi o montante desviado nos casos do juiz Lalau, Banco Marka, Anões do orçamento e Sanguessugas. Quantos policiais militares estavam envolvidos? Nenhum.
Certa ocasião, ouvi de um parlamentar que, se fosse possível fazer uma escala do nível de corrupção, a polícia estaria no jardim de infância, enquanto empresários e políticos já teriam concluído mestrado e doutorado. O argumento não justifica qualquer tipo de corrupção, mas mostra o cinismo de pesquisadores e de boa parte da sociedade, em apontar dedos mais dos que sujos para uma classe sofrida, que morre todos os dias, que trabalha com altos níveis de estresse, que é mal remunerada, como responsável por todos os males.
Por fim, faltou a pesquisa que não é pesquisa, mas engodo, provar o óbvio: Como corrupção é ato bilateral, necessitando da existência do corrupto e do corruptor, e em sendo a PM do Rio de Janeiro a mais corrupta, os habitantes do nosso estado seriam os maiores corruptores?