Há pelo menos uma característica da atividade policial que garante o sentimento de orgulho àqueles que a exercem: o exercício da garantia da paz aos demais componentes da sociedade, a possibilidade de evitar e corrigir injustiças, a capacidade de afirmar direitos e fazer cumprir os deveres. Trata-se quase de uma missão heroica, não fossem humanos e falhos aqueles que possuem tais responsabilidades. De todo modo, ser titular deste papel social gera, sim, certo sentimento de elevação, de nobreza, sem que seja necessário, é claro, tangenciar o esnobismo e a empáfia.
Falamos de orgulho como quem fala do filho que acaba de ganhar o campeonato de Karatê, como quem percebe que, do esforço de si próprio, é possível gerar frutos positivos, bem sucedidos. Passar horas em uma madrugada em busca de uma arma de fogo que, se não fosse apreendida, acabaria com uma vida inocente. Capturar um suspeito que tenha cometido um abuso contra uma criança. Impedir que uma pessoa embriagada cometa um acidente no trânsito. Dar o encaminhamento legal a quem atenta contra a vida ou outros direitos de terceiros.
Ou (aparentemente) menos: dar uma informação a um desavisado. Fazer com que uma criança encontre seus pais. Levar um cão perdido a um canil. Aconselhar positivamente um casal que está na iminência da agressão física. Garantir a segurança de um senhor que troca o pneu de seu veículo em um local escuro e inóspito.
Não são poucos os atos – prosaicos e sofisticados – que os policiais exercem para que sintam involuntariamente este prazeroso orgulho da sua profissão, fazendo-nos admitir que tal ofício não é vão ou desnecessário. Apesar das dificuldades, dos entraves de todas as ordens que fazem com que a motivação esmoreça, o orgulho está sempre lá – e esta é uma diferença essencial, já que a motivação policial é circunstancial e pode ser manipulada, para o bem e para o mal, diferentemente do orgulho, que atinge o ego de qualquer homem ou mulher tão logo admita que está praticando o bem.
Todos os policiais e chefes de polícia, em todas as instâncias hierárquicas, deveriam perceber a presença deste elemento crucial em profissões como a policial. É em referência a este orgulho bom que as crianças são entusiastas dos policiais, sentimento às vezes esquecido quando percebem que policiais são capazes de fazer o contrário do que é sua missão. É em referência a este orgulho que iniciamos nossa carreira ansiosos por viver o cotidiano das ruas, sentimento às vezes esquecido quando percebemos o mar de politicagem e carência a que às vezes somos submetidos.
Como disse recentemente João Ubaldo Ribeiro, “se não há esperança de nada, então a vida é um contra-senso. As pessoas não podem viver sem esperança”. Por pior que sejam o contexto e as perspectivas, sempre há alguma esperança, que no caso dos policiais repousa sobre a vontade de afirmar o máximo possível este orgulho. Orgulho que, sem cruzar os braços e sem assumir posturas indolentes, é sempre bom lembrar que carregamos conosco.
Autor: Danillo Ferreira - Tenente da Polícia Militar da Bahia, associado ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública e graduando em Filosofia pela UEFS-BA. | Contato: abordagempolicial@gmail.com
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