BANDIDOS ARMADOS VOLTAM A IMPOR O TERROR EM ÁREAS PACIFICADAS E COMANDANTE DAS UPPS DIZ QUE PACIFICAÇÃO NAS FAVELAS DA PENHA E DO ALEMÃO É O MAIOR DESAFIO DA PM
‘Acho melhor vocês saírem daqui. Os caras (traficantes) da boca (de fumo) estão tensos e algo pior pode acontecer’. O aviso, em tom ameaçador, foi dado por um adolescente, ontem de manhã, à reportagem do DIA, próximo à Rua 8, no Parque Proletário da Penha.
Cerca de 12 horas antes, quatro pessoas foram baleadas num confronto entre traficantes e policiais de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). A resistência nos conjuntos do Alemão e da Penha, onde estão oito das 30 unidades já inauguradas no estado, mostra-se o maior desafio da política de pacificação.
“Temos desafios parecidos no Fallet e no São Carlos, mas os complexos do Alemão e Penha são os maiores pelo tamanho e por tudo que aquilo representou para o tráfico”, enfatizou o coronel Paulo Henrique Azevedo de Moraes, que está à frente do Comando de Polícia Pacificadora (CPP).
Exatos nove meses após a inauguração da primeira UPP na região, a da Fazendinha, no Alemão, a sensação de insegurança é nítida na fisionomia de moradores, antes solícitos, hoje arredios. Apesar da aparente tranquilidade, a lei do silêncio voltou a imperar.
Além de inúmeros confrontos registrados desde o início da chegada das UPPs, em abril de 2012, dois policiais já foram mortos em trocas de tiros: a soldado Fabiana Aparecida, em julho, na Nova Brasília, e o cabo Fábio Barbosa da Silva, em dezembro, na Fazendinha.
RATO MOLHADO E ARARÁ
Na noite de quarta-feira, o confronto começou na Rua 8, se estendeu pela Vila Cruzeiro e durou mais de 30 minutos. Por volta das 21h45, PMs da UPP Parque Proletário, que realizavam patrulhamento a pé, se depararam com um grupo de pelo menos dez bandidos armados com pistolas.
Os criminosos fugiram para a parte alta do campo da Vila Cruzeiro, a poucos metros dali, onde encontraram outra equipe da UPP, iniciando um novo confronto. Quatro pessoas foram vítimas de balas perdidas.
Enquanto isso, também na Zona Norte, foram inauguradas na quarta-feira as UPPs do Jacarezinho e de Manguinhos. Ontem, a PM começou a ocupar as favelas do Rato Molhado, no Engenho Novo, e Arará, em Benfica.
SEGURANÇA SERÁ REFORÇADA
Para a PM, os quatro baleados se encontravam em ruas atrás de onde estavam os policiais e foram atingidos por tiros disparados pelos bandidos. Não houve prisões nem apreensões, mas o comandando das UPPs prevê ações na região, com reforço policial.
Câmeras serão instaladas para auxiliar o patrulhamento. “Estamos tentando evitar conflitos. É normal que, a cada confronto, a participação da população, que é pontual hoje em dia, diminua”, completou o coronel Paulo Henrique.
Sônia Alves, 48, e Luciane Beatriz Fabri, 39, baleadas na perna, e Ivanildo de Souza, 47, ferido de raspão no pescoço, tiveram alta. Anair Rita, 48, baleada de raspão na cabeça, segue internada no Miguel Couto, mas seu estado é estável.
TRUCULÊNCIA DE PMS PODE GERAR REJEIÇÃO
Para a antropóloga da Uerj Alba Zaluar, a diminuição do apoio de moradores à polícia de pacificação contribui diretamente para a permanência ou volta do tráfico. “Muitos dos que eram inicialmente favoráveis à UPP já se mostram contrários. A forma truculenta com que são tratados e a falta de ações sociais explica o aumento da rejeição à polícia”.
Alba lembra também que a região sempre teve enorme importância estratégica para o tráfico, o que justificaria a resistência maior do que em outras áreas. Embora os recentes conflitos tenham aumentado o sentimento de insegurança da população local, o estrategista militar Carlos Jansen acredita que com o tempo todos conseguirão enxergar os benefícios da pacificação.
“No dia a dia, todos entenderão que as forças policiais estão ali para ajudar, e os problemas serão equacionados”, avaliou.
MEMÓRIA
Na noite do dia 22 de julho passado, a soldado Fabiana Aparecida de Souza, de 30 anos, foi morta com tiro no peito em um ataque de bandidos à base e ao contêiner da UPP Nova Brasília, também no Complexo do Alemão. Ela tinha acabado de lanchar e estava ao lado do contêiner quando os criminosos agiram . A PM morreu após levar um tiro de fuzil 762. No mesmo dia, PMs também foram atacados na localidade da Pedra do Sapo.
Vinte e oito dias após a morte de Fabiana Aparecida de Souza, outro PM foi baleado na comunidade. O também soldado Vinícius Barbosa Ferreira, de 29 anos, levou um tiro de fuzil no braço ao ser encurralado por traficantes. No dia seguinte, criminosos na Grota desafiaram policiais da UPP Fazendinha em outro tiroteio.
No dia 5 de dezembro, o cabo PM Fábio Barbosa, de 26 anos, lotado na UPP do Morro do Alemão, morreu após levar um tiro na cabeça e na perna disparados por bandidos no Morro da Fazendinha, no Complexo do Alemão. Ao lado de colegas de farda, ele trocava tiros com criminosos da localidade conhecida como Areal.
FONTE: