domingo, 19 de junho de 2011

Polícia do Estado Rio de Janeiro ocupa, sem tiros, o Morro da Mangueira

Como anunciado há um mês pelo Governo do Rio de Janeiro, começou neste domingo (19), às 6h, a ocupação da favela da Mangueira, na Zona Norte da capital. O objetivo é livrar a região do tráfico de drogas armado para instalar a 18ª Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Rio. Com a ocupação da Mangueira e de outras favelas vizinhas – Morro dos Telégrafos, Candelária e Tuiuti – toda a área conhecida como Complexo da Tijuca estará ocupada, beneficiando cerca de 1,5 milhão de pessoas, direta e indiretamente. A operação é coordenada pela Secretaria de Segurança e envolve um total de 750 homens, entre policiais Civis, Militares e Federais, fuzileiros navais, bombeiros e membros da Defensoria Pública do Estado e da Prefeitura do Rio. Os agentes têm apoio de 14 blindados, quatro helicópteros e dezenas de outros veículos.

O efetivo impressiona e é acompanhado de perto por repórteres com coletes a prova de balas. Mas trata-se apenas de uma demonstração de força do Estado. O anúncio prévio da ocupação, prática adotada em quase todas as operações policiais para implantação de UPPs, fez com que os bandidos fugissem. A bandeira do Governo já foi hasteada no alto da favela e nenhum tiro foi disparado no caminho. Bem diferente do que aconteceu nos Complexos do Alemão e da Penha, em novembro de 2010, quando blindados e coletes foram essenciais. Naquela ocasião, a ocupação da polícia e das Forças Armadas foi reativa e instantânea, motivada por uma série de atentados a bala e ônibus incendiados pela cidade. Não houve tempo para avisar o tráfico e evitar tiroteios.

A tática evita mortes, já que raramente algum membro da quadrilha fica na favela para trocar tiros com a polícia. Mas já começa a ser criticada. No caso da Mangueira, fontes da própria polícia revelam que os principais nomes do tráfico de drogas local, liderados pelo bandido conhecido como Polegar, já teriam fugido para favelas da mesma facção criminosa, o Comando Vermelho, em cidades vizinhas. Existe a suspeita de que Polegar esteja no Paraguai.

A conta é simples: Traficantes de drogas não são presos ou mortos em confronto, mas também não desaparecem no ar. Os que não têm mandado de prisão contra si – normalmente os muito jovens, que ocupam posições baixas na hierarquia do tráfico – têm procurado ONGs e as próprias UPPs para largarem o crime. Mas os chefes, ou quaisquer bandidos que têm pena para cumprir, dificilmente se entregam ou procuram outro meio de vida

O que tem ocorrido com frequência preocupante é a migração do crime organizado. Boa parte dos traficantes expulsos pelas UPPs da cidade do Rio estão liderando o tráfico em favelas nos municípios da Baixada Fluminense, da Região dos Lagos, no Sul Fluminense – principalmente Volta Redonda e Barra Mansa – e nas cidades da Região Serrana e do interior do Estado.

A ocupação na Mangueira tem o objetivo de livrar do tráfico de drogas uma das favelas mais importantes do país. O morro foi a principal musa do gênio Cartola, e sua escola de samba é uma das mais festejadas do carnaval carioca. Mas mesmo a festa popular sofria influência do crime na Mangueira. A quadra da escola de samba sempre teve fins de semana populares, com lotação esgotada, e parte do faturamento ia direto para a boca de fumo. Como se não bastasse, o tráfico também faturava vendendo drogas aos turistas que não procuravam apenas o samba e as mulatas vestidas de verde e rosa, cores da escola.
A relação entre o tráfico e o samba na Mangueira era tão estreita que um dos chefes históricos do tráfico local, Francisco Paulo Testas Monteiro, o Tuchinha, hoje preso, foi um dos compositores do samba-enredo da escola em 2008. Na mesma época, foi descoberta uma rota de fuga secreta no camarote exclusivo do tráfico de drogas.

Outro objetivo da Secretaria de Segurança do Rio com a ocupação da Mangueira e das favelas vizinhas é livrar do poder do tráfico as comunidades do entorno do estádio do Maracanã. Por motivos óbvios. O Maracanã está em obras para ser o palco da final da Copa do Mundo de 2014 e da abertura das Olimpíadas de 2016. Mangueira e Maracanã são vizinhos, e dois dos principais pontos turísticos da Zona Norte da cidade. Com a ocupação de hoje, o Estado garante patrulhamento de UPPs em todas as favelas vizinhas ao estádio.