sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Um ano após ataque, UPP chega a Morro dos Macacos


Sem disparar nenhum tiro, PM ocupa favela de Vila Isabel onde traficantes derrubaram helicóptero

Sábado, 17 de outubro de 2009: traficantes invadem o Morro dos Macacos, em Vila Isabel, e derrubam um helicóptero da Polícia Militar. Quinta-feira, 14 de outubro de 2010: sem qualquer resistência dos bandidos que aterrorizaram o Rio há quase um ano, 200 PMs — 120 deles do Batalhão de Operações Especiais (Bope) — ocupam a comunidade para implantar a 13ª Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) no Estado.

A ação marcou a retomada pelo poder público do último território na região da Grande Tijuca que ainda era dominado pelo tráfico. O secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, anunciou que, nos próximos dias, quando a situação no Morro dos Macacos estiver controlada, parte do efetivo irá para os morros São João, no Engenho Novo, Matriz e Quieto, no Sampaio. Nessas comunidades, será instalada a 14ª UPP.

Ainda este ano, como já anunciou o governador Sérgio Cabral, a polícia vai ocupara o Morro da Mangueira e o Complexo de São Carlos. “Ficamos quase dois anos planejando a ocupação dessa área. E hoje conseguimos concluir com a ocupação do Macacos, que nos traz uma recordação muito ruim. Mas hoje a gente devolve o território a seus donos, que são os moradores”, disse Beltrame, garantindo que a ação não foi uma resposta à derrubada do helicóptero. “Não íamos agir de cabeça quente, nos deixando levar pelo emocional”.

Hoje, o secretário vai hastear as bandeiras do Brasil e do Bope no alto do Macacos. A operação se estendeu ainda a duas comunidades próximas — Parque Vila Isabel e Pau da Bandeira —, beneficiando 12 mil moradores nas favelas e mais 27 mil nos arredores. Quando o projeto chegar ao Engenho Novo e Sampaio, um total de 64 mil pessoas serão favorecidas pelas duas UPPs.

Na ação de ontem, policiais do Bope capturaram um homem identificado como Pulga, que seria traficante. Um ônibus equipado com câmera panorâmica auxilia os PMs a vigiar o morro.


Criminosos se refugiaram há 15 dias
  
Os traficantes do Morro dos Macacos começaram a deixar a favela há 15 dias, quando a ocupação foi anunciada, segundo o tenente-coronel Paulo Henrique Azevedo, comandante do Bope. De acordo com ele, há informações de que o chefe das bocas de fumo Leandro Nunes Botelho, o Scooby, teria ido para a Favela da Rocinha, apontado como o ‘quartel-general’ da facção Amigos dos Amigos (ADA).

Já os gerentes e parte do bando se dividiram entre favelas controladas pela facção, como o Complexo de São Carlos (Estácio) e o Morro do Dezoito (Água Santa), ocupado por traficantes após a prisão de milicianos mês passado.

“Sabemos que há favelas que não serão entregues de bandeja pelos criminosos. Uma coisa é ocupar a sede, outra é ocupar um posto avançado da facção, como o Macacos. Por isso, acredito que não houve a resistência”, avaliou Paulo Henrique.


PMs na rua antes dos morros

Do grupo de 1.200 policiais militares que vão se formar hoje sairá parte do efetivo para as UPPs do Macacos e do São João. Mas, antes da inauguração das futuras unidades, esses PMs atuarão nas ruas. Os recrutas farão patrulhamento a pé em regiões de grande circulação de pessoas. Um dos locais já definidos é Madureira.
Para o ano que vem, o governo do estado pretende aumentar em mais 7 mil homens o efetivo da PM.

O secretário de Segurança comentou a dificuldade de prender os traficantes responsáveis pela derrubada do helicóptero — apenas um foi capturado. “Não é que nós não estamos preocupados em prender essas pessoas. Mais importante para nós é tirar dessas pessoas o território que elas têm garantido por armas de fogo”, disse Beltrame.


‘Meu filho poderá até vir me visitar’

Ainda incrédulos com a ocupação sem tiros, moradores, aos poucos, começam a comemorar. Um comerciante da favela admitiu que, até ontem, não acreditava que a UPP fosse chegar à comunidade: “Estava desconfiado mesmo. Agora, meu filho poderá até vir me visitar, o que não acontece há muito tempo”.

Presidente da Associação de Moradores do Morro dos Macacos, Mário Lima afirmou que a pacificação representa o pagamento de uma dívida social do Estado com a comunidade.

“Vila Isabel tem tradição cultural. Há dez anos havia uma forte integração entre o morro e o asfalto. Depois, com a violência, ficamos segregados. Espero que a UPP traga o que o Macacos mais precisa: projetos sociais, que não temos nenhum, e urbanização”, cobrou ele.