quarta-feira, 23 de junho de 2010

Política de Extermínio

Política de extermínio 
João Batista Damasceno
Cientista político (PPGCP/UFF) e membro da Associação Juízes para a Democracia (AJD)

A responsabilização dos executores da violência não isenta aqueles que a ordenam. No Brasil Rural, dizia-se que o perigo de estumar cachorro contra as galinhas do vizinho é que ele passa a comer as do nosso galinheiro.

No início do seu mandato, o governador Sérgio Cabral implementou a política de confronto que manifesto de juristas, artistas e intelectuais chamou de Política de Extermínio. O ápice desta política foi a caçada com helicóptero que resultou na morte de um indivíduo que fugia morro abaixo na favela da Coreia em 2008.

De tudo se falou daquela cena: do pânico do fugitivo, da perícia do piloto, da pontaria do atirador. Pouco se falou que foi uma execução e que não havia violência a ser repelida por legítima defesa.

A construção de cinturão para garantir a tranquilidade e o apoio da classe média na próxima eleição, com a ocupação militar pelas UPPs, promove o êxodo de traficantes para o subúrbio e a repulsa das tropas da periferia ante a possível chegada dos forasteiros.

No Recôncavo da Baía de Guanabara, a cada dia são mais frequentes as execuções com desfazimento do local do crime a pretexto de socorro do baleado. Na periferia, qualquer trabalhador pode ser confundido com forasteiro e executado, assim como jovens ainda não admitidos no mercado de trabalho.

O estímulo à ilegalidade pela França na Argélia e pelo Brasil durante a ditadura militar formou grupos que passaram a ameaçar a sociedade, como os militares do Exército que se acidentaram com uma bomba no Riocentro em 1981.

Há responsabilidade dos executores da violência. Mas também de quem a ordena. Ao Ministério Público e ao Poder Judiciário cabe estancá-la, com o fim dos arquivamentos dos forjados autos de resistência.
 
FONTE: http://odia.terra.com.br/portal/conexaoleitor/html/2010/6/joao_batista_damasceno_politica_de_exterminio_90693.html