quinta-feira, 22 de abril de 2010

Milagres são a arma do 'exército' de São Jorge  

No dia do santo mais popular do Rio e da Internet, devotos contam graças alcançadas

O que há em comum entre um parto de alto risco, um tiro à queima-roupa e uma doença incurável? Quem é devoto de São Jorge sabe a resposta na ponta da língua: “É só pedir que ele abre os caminhos e preserva a vida”. Os milagres atribuídos ao Santo Guerreiro vão completar 18 séculos amanhã, quando legião de fiéis vai lotar igrejas e terreiros para homenagear o santo mais popular do Estado do Rio de Janeiro.
Mesmo sem entender nada sobre fé, a pequena Júlia se alistou no Exército de Jorge no dia em que nasceu, 23 de abril. Há dois anos, a menina veio ao mundo com o cordão umbilical enrolado no pescoço. A cirurgia era tão delicada que foi marcada duas semanas antes de a mãe, a estudante Danielle Figueiredo, 24, completar nove meses de gestação. Aquele 18 de abril de 2008 marcou a família. “A bisavó da Julinha pressentiu que havia risco de morte para o bebê. Não tinha como avisar à futura mamãe, que já estava na maternidade, pronta para a cesariana. Ela acendeu uma vela e rezou a manhã inteira”, revela o avô de Júlia, o jornalista Guilherme Moitas, 46.
“Só sei que a maternidade ficou pior que o INSS, com filas de partos e cirurgias de emergência. Minha obstetra, sete horas depois, disse que era melhor adiar o nascimento da minha filha para o dia 23”, descreve Danielle. A cirurgia, no Dia de São Jorge, levou só 30 minutos. “Ainda ouvi a instrumentadora falar: ‘Bota o nome dela de Jorgina’. Com todo o respeito, fiquei só com o jota de Jorge”, brinca.

Mais enroscado que a pequena Júlia ficou o devoto de Ogum (nome do santo no Candomblé) Oswaldo José de Senna Filho, o Cotoquinho, 51. Diretor do Afoxé Filhos de Ghandi, ele viu a morte de perto após discutir com um traficante no Morro de São Carlos, no Estácio, onde levou o grupo para se apresentar há sete anos. “Coloquei a mão na frente da arma por puro instinto, e só veio pólvora. Acredite, só pólvora!”, garante.

Professor de instrumentos de percussão e vocalista do Afoxé, Cotoquinho admira São Jorge desde menino. “Fui criado no candomblé e reconheço a importância da energia de Ogum (São Jorge). O vermelho representa a força e o branco, a paz. Faço questão de andar vestido e armado com as armas dele para que meus inimigos não me alcancem”, diz ele, citando um trecho da oração ao santo.

CIRURGIA DESCARTADA

Luci Vicente de Faria, 63, é outra que agradece todos os dias. “Minha filha, Andréia, sofria de endometriose (doença que desloca partes do endométrio para fora do útero) e os médicos queriam fazer cirurgia”, recorda. Sacristã-mor da Igreja da Venerável Confraria de São Gonçalo Garcia e São Jorge, na Rua da Alfândega, no Centro, a devota não hesitou. “Fui conversar com Jorge e, como sempre, ele atendeu: minha filha está curada e não precisou ser operada. Quem é devoto sabe que ele mata o dragão que nos aflige”, poetiza.

Para o padre Marcelino Modelski, da Paróquia de São Jorge em Quintino, a popularidade do santo merece um estudo antropológico. “Vencer as forças do mal, representadas pelo dragão, usando a espada e a lança, estimula o imaginário das pessoas. O dragão é o obstáculo a ser superado. Todo mundo tem um obstáculo a ser vencido e São Jorge simboliza a vitória sobre a adversidade”, explica. Descendente de poloneses, o padre reconhece que os devotos de São Jorge formam um exército que ultrapassa a religiosidade. “Jorge transcende o catolicismo por ser adorado por outros grupos religiosos e ganha força fora de série que precisa ser respeitada e estudada, profundamente, para termos uma visão mais ampliada do simbolismo que envolve o santo há 18 séculos”, admite.

Mais de 500 mil devotos devem participar, amanhã, das festas em homenagem ao santo no Rio e na Baixada Fluminense, de acordo com a previsão da Arquidiocese do Rio. Em todas, haverá alvorada e queima de fogos, além das tradicionais procissões.

Santo é o mais popular no Orkut e Facebook

A fama do santo transcendeu o espaço das igrejas e dos terreiros de candomblé e umbanda. Na Internet, o site de relacionamentos Orkut exibe oito comunidades oficiais. A principal reúne 84.561 pessoas. Nem o casamenteiro Santo Antônio, que tem 27.029 inscritos na sua maior comunidade de devotos, chega aos pés de Jorge. Na rede social Facebook, São Jorge é o campeão de audiência, com mais de 3 mil fãs, superando Nossa Senhora Aparecida, Santo Antônio e Santo Expedito.

Jorge nasceu na Capadócia, na Turquia, viveu na Palestina e morreu na Lídia, decapitado no ano 3, após ser humilhado, torturado e envenenado por ser cristão. Ele é padroeiro da Inglaterra, Grécia, Portugal, Espanha, Lituânia, Geórgia, Região da Catalunha e de cidades europeias, como Veneza, Gênova e Moscou.

PARA DEVOTOS

PROGRAMAÇÃO

Amanhã, igrejas de São Jorge do Centro, Quintino, Santa Cruz e Duque de Caxias promovem a tradicional alvorada, com missa a partir das 5h. Em Santa Cruz, a procissão de 4.500 cavaleiros sai do Largo do Bodegão e circula pelo bairro às 18h. Em Quintino, a carreta será às 7h e a procissão, às 16h. Em Caxias, a procissão luminosa ocorre a partir das 19h. No Centro, cortejo é domingo, às 11h.

O arcebispo do Rio, Dom Orani, participará da alvorada no Centro e celebrará 4 missas. A primeira, após a queima de fogos na Igreja de São Jorge, na Rua da Alfândega; às 10h, em Quintino; às 15h, no Forte de Copacabana; e às 17h30, em Santa Cruz. Após a missa do Forte, haverá motosseata.

AMBULANTES

Serão 29 barracas padronizadas na Praça da República, e outras 60 em Quintino, das 18h de hoje até as 4h de sábado. O capelão Alberto Gonzaga celebra missa, às 9h de amanhã, na Capela de São Jorge, no 12º BPM (Niterói), seguida de procissão.

PADRE MIGUEL

Show de Emílio Santiago começará às 21h de amanhã em frente a estátua de Zumbi dos Palmares, na Rua Figueiredo Camargo. A festa começa às 5h com alvorada e queima de fogos. Às 7h, terá missa e café da manhã.

NOVA IGUAÇU E GUAPIMIRIM

Amanhã será servido o Angu do Santo Guerreiro, na Paróquia de N. S. de Fátima e São Jorge, no Centro em Nova Iguaçu a partir das 12h. Domingo, Guapimirim realiza a 6ª Cavalgada de São Jorge, a partir das 9h.

Centro e Quintino têm esquema especial de trânsito para festejos de São Jorge 

Atenção motoristas, a CET-Rio autorizou a interdição de várias ruas e alterações no trânsito no entorno da Praça da República, no Centro, e no bairro de Quintino, na Zona Norte, onde estão programados festejos do dia de São Jorge, na sexta-feira.

Na Praça da República, no Centro, serão fechadas a via junto à praça, em frente ao Campo de Santana, na pista da direita entre a Avenida Presidente Vargas e a Rua da Constituição. O fechamento se estenderá à pista lateral da Av. Presidente Vargas, no sentido Centro e junto à praça, em frente ao Campo de Santana, das 6h à meia-noite de sexta-feira.

Entre 22h de sexta-feira até o meio-dia de sábado, a interdição será na pista de serviço da Praça da República, lado esquerdo, entre a Avenida Presidente Vargas e a Rua Buenos Aires. Os motoristas devem optar pelo estacionamento no sistema Rio Rotativo, que funcionará em trechos de quatro vias próximas à Igreja de São Jorge:

- na Avenida Presidente Vargas, pista lateral no sentido Centro, entre a agulha após a Avenida Tomé de Souza e a Avenida Passos;

- na Rua Buenos Aires, lado esquerdo, entre a Av. Tomé de Souza e a Praça da República;

- na Praça da República, pista de serviço no lado esquerdo, entre as ruas Buenos Aires e Visconde do Rio Branco;

- e na Rua República do Líbano, lado direito, entre as ruas Visconde do Rio Branco e da Constituição e entre as ruas Buenos Aires e da Constituição.

Em Quintino, serão interditadas - das 18h de quinta-feira até 6h da manhã de sábado - três vias no entorno da Igreja Matriz de São Jorge: a Praça Quintino Bocaiúva (todo o entorno, menos o da Rua Nerval de Gouveia) e as ruas Clarimundo de Melo (da Rua Bernardo Guimarães à Rua Assis Carneiro) e da República (entre a Clarimundo de Melo e a Praça Quintino Bocaiúva).

O tráfego será desviado, exceto no horário da procissão. Da Rua Clarimundo de Melo para a Avenida Amaro Cavalcanti, os motoristas deverão seguir pelas ruas Bernardo Guimarães, Nerval de Gouveia, Elias da Silva, Assis Carneiro e Clarimundo de Melo.

Na sexta-feira, a Rua Clarimundo de Melo será fechada das 15h às 19h a procissão em honra ao Santo Guerreiro, desde a Rua Bernarndo Guimarães até a Rua Padre Telêmaco, e esta fecha desde a Clarimundo de Melo até a Rua Ernani Cardoso. Também serão bloqueadas as ruas Elias da Silva (entre a Rua Nerval de Gouveia e o Viaduto Compositor Wilson Batista) e Nerval de Gouveia (da Rua Bernardo Guimarães a Elias da Silva).

Da Rua Ernani Cardoso para a Av. Amaro Cavalcanti, o tráfego será orientado a seguir pelo Viaduto Washington Luís, a Avenida D. Helder Cãmara, as ruas da Pedreira, Goiás e Euzébio de Matos, e ainda pela Praça dos Garis, Rua Manuel Vitorino, Praça Sargento Eudóxio Passos e Rua Clarimundo de Melo, usando esta para acessar a Amaro Cavalcanti. Já da Clarimundo de Melo para a Rua Ângelo Dantas, o trânsito será desviado para as ruas Assis Carneiro e Elias da Silva, o Viaduto Wilson Batista, as ruas Goiás e Cupertino e a Avenida D. Helder Câmara.

O estacionamento de veículos será proibido nos dois lados da Rua Clarimundo de Melo, desde a Rua Bernardo Guimarães até a Rua Assis Carneiro, e também na Rua João Barbalho, da Clarimundo de Melo ao acesso para o Viaduto Wilson Batista.

No domingo, procissão no Centro fecha a pista de serviço da Praça da República, entre a Avenida Presidente Vargas e a Rua Buenos Aires. A partir das 10h, a procissão ocupará duas faixas de trânsito no lado direito da igreja, na Praça da República, seguindo pelas avenidas Presidente Vargas e Passos, pela Praça Tiradentes e a Rua Visconde do Rio Branco, voltando pela Praça da República até a igreja.