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quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Após tiroteio, Polícia Militar ocupa duas favelas do Alemão

O clima nas favelas que formam o Complexo do Alemão, na Zona Norte, é de aparente tranquilidade no início da manhã desta quarta-feira. Fuzileiros navais realizam um "pente fino" nos acessos aos morros que compõe o conjunto de favelas. Carros, motocicletas, kombis e pedestres são revistados.

Militares encontraram na manhã desta quarta-feira, na Rua Nova, em um dos acessos à Favela da Grota, no Complexo do Alemão, cinco bombas de fabricação caseira. Destas, apenas uma não havia sido detonada. Os artefatos recolhidos pelo Exército teriam sido jogados pelos traficantes para atingir militares.

Nesta quarta-feira, às 11h30, o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, e o comandante militar do Leste, general Adriano Pereira Junior, concedem entrevista coletiva.

Morros ocupados

Além de soldados, policiais militares também reforçam a segurança na comunidade. A Polícia Militar informou, através de nota, a ocupação dos morros da Baiana e do Adeus.

O comandante-geral da PM, coronel Mário Sérgio Duarte, determinou a ocupação de ambos os morros por tempo indeterminado. O Adeus e Baiana, que não contam com tropas federais, são locais com visão de cima para baixo, o que facilitaria agressões contra as tropas que patrulham a Avenida Itararé, informou a PM.

O Exército revelou, também em nota, que a tropa que ocupa o Alemão recebeu o apoio de uma campanha de fuzileiros navais, com cerca de cem homens.

Tensão na volta para casa
Moradores passaram por momentos de desespero com pelo menos duas trocas de tiros no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio, na noite desta terça-feira. Sem conseguir subir o morro, muitos avisavam aos familiares por celular sobre o conflito. As balas traçantes eram vistas até em Bonsucesso.

“Queríamos saber porque estão dando tantos tiros aqui. Não tem traficante, só tem morador. Não tem essa necessidade, se a favela está pacificada. Moro em frente ao teleférico e as balas traçantes passam por cima da minha casa. Deitamos no chão, pedindo misericórdia a Deus pra não chegar uma bala perdida aqui. Somos cinco (três crianças e dois adultos). Moro com minha irmã, dois filhos dela (de 3 meses e 3 anos) e meu filho de 10 meses”, contou uma moradora.

No início da confusão da noite desta terça-feira, PMs do Batalhão de Campanha do Alemão foram os primeiros a chegar. As forças do Exército ocuparam a região da Rua Joaquim de Queiroz por volta das 20h. Três ambulâncias do Corpo de Bombeiros foram chamadas pela Força da Pacificação, mas até às 23h, havia apenas a informação de um ferido. Um homem que caiu de uma laje e teve ferimentos na cabeça, sendo encaminhado para o Hospital Getúlio Vargas.

Um blindado do 22º BPM (Maré) chegou à comunidade às 21h30 para reforçar o patrulhamento, que contou com o auxílio extra de 100 homens do Exército. O comando do Batalhão de Campanha avisou a todos os soldados que ficassem em alerta, até quem estavam de folga.

No final da noite desta terça-feira, a Força de Pacificação afirmou em nota que os tiros foram disparados por traficantes, em uma tentativa de "inquietar" as forças de segurança que trabalham na comunidade desde novembro do ano passado.

De acordo com o Major Bolsas, um homem foi encontrado ferido na cabeça, próximo ao teleférico da Fazendinha. O ferimento, no entanto, teria sido causado por uma queda no chão e não estaria ligado ao tiroteio.

Ainda segundo o Major, as avenidas Itararé e Itaócas ficarão interditadas ao tráfego por medidas de segurança.


Trânsito parado, comércio fechado

Um confronto no Complexo do Alemão, na noite desta terça-feira, fez moradores reviverem dias de terror. Intenso tiroteio paralisou o teleférico da favela, fechou o comércio nas proximidades da Rua Joaquim de Queiroz, na Grota, e parou o trânsito na Estrada do Itararé. A troca de tiros interrompeu período de paz, desde a instalação da Força de Pacificação, em novembro. Há informação de pelo menos dois feridos. Segundo morador, traficantes chegaram do Santo Amaro e Vila Kennedy. De acordo com a polícia, bandidos saíram da Penha à tarde e entraram no complexo em vans.

O confronto aconteceu na Alvorada, Nova Brasília e Canitá. Bombas e tiros também foram lançadas em policiais no asfalto. Quem usava o teleférico ficou preso nas estações. Barricadas foram incendiadas na Rua Joaquim de Queiroz. Morador postou vídeo na Internet com imagens de balas traçantes, que passavam próximo ao bondinho do teleférico. Soldados atiraram em lâmpadas nas ruas à noite.

Na madrugada anterior, soldados do Exército teriam desligado as luzes perto do Teleférico, e disparado balas de borracha. A confusão aconteceu na região da Alvorada, no morro, no mesmo lugar onde ocorreu um tumulto domingo. Duas horas antes, bombeiros dforam para a Av. Itaoca, na entrada da Nova Brasília, onde grupo ateou fogo a madeira na pista.

Segundo moradores, o protesto durou 40 minutos. Ônibus mudaram itinerários. René Silva, da Voz da Comunidade, disse que motoqueiros iniciaram a confusão segunda-feira.

O comando do Exército divulgou vídeo gravado domingo que mostra bocas de fumo funcionando na Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha.

Na manhã desta terça-feira, o governo estadual reconheceu que o programa de UPPs precisa de reavaliação. O anúncio foi feito na formatura de 489 alunos do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças da PM, com a presença do governador Sérgio Cabral.

Ele falou sobre os episódios de violência em áreas com UPPs. Dos 489 recém-formados, 385 vão atuar no Morro da Mangueira. Segundo o coordenador das UPPs, coronel Robson Rodrigues, a previsão é que a unidade seja inaugurada em 45 dias.

“A pacificação é um processo de educação recíproca. Há, tanto na comunidade quanto na força de segurança, resquícios de um viés violento. Há 30 ou 40 anos, a polícia só entrava para atirar”, explicou Cabral.

MP Militar vai ouvir moradores

O Ministério Público Militar (MPM) está acompanhando os acontecimentos e pediu informações ao Comando Militar do Leste. Amanhã, procuradores e promotores vão ao complexo ouvir moradores.

Um deles, que tem um filho deficiente visual, foi buscar o jovem na comunidade por volta das 20h desta terça-feira e ficou assustado com a situação no complexo. “Os moradores já estavam acostumados com o clima de paz que vinha reinando na comunidade. Logo hoje, véspera de feriado, com todos os moradores nas ruas, recomeçam esses episódios de violência”.

Outro morador reclamou que, depois de dez meses de paz, a realidade mudou. “Começou tudo de novo, estamos cansados”, disse.


Vídeo mostra suposta ação de traficantes

Nesta terça-feira o Exército divulgou imagens da ação de homens, que estariam negociando drogas livremente, na Rua 9, na Vila Cruzeiro, no Complexo do Alemão. O vídeo teria sido feito no domingo, antes do primeiro confronto entre moradores e militares.

Após a filmagem, os militares detiveram 12 pessoas e duas delas acabaram presas por associação ao tráfico. As imagens foram feitas pelo serviço de inteligência da Força de Pacificação que atua no local.